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quinta-feira

“E quando me perguntam por que eu não fiz alguma coisa quando você foi embora


...eu não digo nada. Na verdade, eu não sei o que dizer. Na maioria das vezes eu digo que foi o destino. Que, de algum modo, não era pra ser. Essa é a minha desculpa esfarrapada por ter sido tão orgulhosa e não ter corrido atrás de você. Não que lamentar faça alguma diferença agora. Já que, quem sabe eu tenha te feito um favor. Porque você nunca me pediu para ficar, nunca provou que me amava de nenhum jeito. Bem pelo contrário, você só me mostrou que não se importava. Você nunca mais me olhou e disse que eu era a garota mais perfeita que existia, nunca mais ficou bravo comigo um dia inteiro porque eu disse que ia me casar com o Caio Castro. Você nunca mais disse que sua ex-namorada estava linda só pelo prazer de me deixar com raiva de você e depois dizer que me amava e que eu era linda com ciúmes. Teus olhos não brilham mais quando me veem, e você não ri que nem um idiota quando eu te falo alguma coisa bonita. Você nunca mais fez piadinhas idiotas sobre minha TPM. Você, sempre tão ciente da minha presença, fingiu não saber quem eu era depois de brigarmos. Fingiu não ver quando eu pedi licença e fui para o banheiro chorar um pouco, só para não ter que chorar na sua frente e admitir que eu me sentia um nada gigante sem você. Você nunca mais se importou se alguma coisa que você dizia me machucava, nunca mais disse que me amava. Você nunca mais me chamou de boba, insuportável, idiota. Você nunca mais me chamou de sua. Mesmo que eu continuasse sendo sua. Mesmo que eu ainda seja. Você não me liga mais só para saber como foi o meu dia. Você nunca mais me procurou, por isso que eu afirmo com toda certeza que você não sente minha falta; que para você, eu não faço diferença. Não mais. Eu achava que tudo ia se ajeitar, que era só uma questão de tempo. Mas garoto, eu vi. Eu vi, com os meus próprios olhos, a frieza do seu olhar. Vi com meus próprios olhos quando você começou a namorar outra garota. E eu passei a noite toda chorando. E chorei no outro dia, e no outro, e na semana seguinte. Tentei me enganar, achando que tudo que é de alguém, volta para esse alguém, cedo ou tarde. Mas é tarde demais para ter qualquer tipo de esperança. Porque você seguiu sua vida, mesmo eu tendo interferido nela tantas e tantas vezes. Seguiu, e nem se preocupou se eu fiz o mesmo. E agora? Agora eu estou aqui. Sei lá. Eu nunca vou ser tão feliz com qualquer outra pessoa do jeito que eu fui com você, nem nunca vou amar ninguém do jeito que eu te amo. Mas talvez, daqui a algum tempo, eu consiga me apegar à alguém. Quem sabe. Mas, depois de ir tão longe por alguém, eu não quero mais ninguém. Por isso que eu continuo aqui. Vendo você esquecer tudo o que nós costumávamos ser. Enquanto você está aí, com o mundo inteiro aos seus pés. E eu aqui, esperando que você sinta minha falta em algum momento do seu dia e queira reviver nossa história, que diga-se de passagem, é bastante longa. Mas eu sei que isso não vai acontecer. Você, agora tão no alto, acho que nem me enxerga. Não sabe que eu mudei meu cabelo, que eu deixei minhas unhas crescerem e que estou mais bonita. Aliás, nem se importa em saber. Você, que já soube dos meus mais mínimos detalhes, hoje nem sabe mais meu número, que antes você sabia de cor. Não sabe mais das minhas manias e gostos, não sabe se ainda prefiro loiros ou se depois de ter sofrido tanto por você, consegui enxergar algum brilho nos morenos. Nem imagina o quanto eu chorei assistindo Diário de Uma Paixão e lembrando de você nas últimas cenas. E eu, pela primeira vez, não sei se tua adoração por música eletrônica e sua mania de ficar cantando os funks mais ridículos na minha orelha já são passado, não sei se você ainda mexe no cabelo quando está nervoso. Eu nunca mais te vi com ciúmes de mim ou me mandando mensagens pela manhã dizendo que tinha feito o gol prometido para mim. Nunca mais vi uma mensagem sua, quando você estava no meio de uma festa super animada, dizendo que você só queria estar comigo naquele momento. Suas palavras não me surpreendem mais. Seu estilo, seu piercing novo. Você não me surpreende mais. Não me liga de madrugada só porque está com saudade. Não repara que eu cortei as pontas dos meus cabelos nem que eu ando mais madura. Não sorri mais para mim. Você age de um modo completamente… estranho. Indiferente. À minha presença, minha opinião, minha voz, meu sorriso, minha indiferença. Você age como se nem me notasse. E toda essa sua frieza foi o maior tapa na cara que eu já recebi. A maior rasteira que a vida já me deu. O sorriso que era meu num dia, no outro dia não era mais. Entende? São tantas coisas que eu queria poder te contar. E isso acaba comigo, porque eu não vou contar. E vou guardar isso para mim. Para sempre. Talvez você nunca descubra que o que eu sentia por você era mais que amor de verdade, era mais que qualquer paixãozinha idiota de adolescente. E como eu não posso te contar nenhuma dessas coisas que confundem minha cabeça todos os dias, eu escrevo. E escrevo tudo o que eu deveria estar falando para você. Mas deixa pra lá. Só, por favor, faz uma coisa por mim: Não me esquece. Porque é isso. Eu nunca vou esquecer você.”

Bárbara Brasil

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